3.  ‘Ele me desrespeitou, ele me bateu e dominou, e depois me roubou’ – quem expressa tais pensamentos amarra sua mente à intenção de vingar-se. Em tais pessoas o ódio não cessa.
4.  ‘Ele me desrespeitou, ele me bateu e dominou, e depois me roubou’ – em quem não expressa tais pensamentos, o ódio cessará.
5.  Nesse mundo a inimizade nunca é eliminada pelo ódio. A inimizade é eliminada pelo amor. Essa é a Lei Eterna.
                                                       –  Versos Gêmeos 3-5, Dhammapada

Pretendia escrever um texto com algumas reflexões minhas sobre o chamado “9/11” – o ataque terrorista ao World Trade Center e Pentágono norte-americanos e as reações do governo daquele país. Mas, atrapalhada nas preparativas para uma viagem ao Japão, simplesmente não tenho encontrado tempo para escrever.

consequências de Agente Laranja

Por este motivo, me limito a passar o link de um artigo excelente (em inglês) que saiu no jornal Japan Today com o título que traduzo como “Com a chegada de 9/11, a moralidade exige que também relembramos as vítimas da América“. Este artigo relembra a Guerra de Vietnã e os efeitos nefastos do “Agente Laranja” usado naquela guerra. Até hoje, cidadãos vietnamitas e soldados dos dois lados sofrem enquanto os governos fazem seus jogos de empurre-empurre, se recusando a assumir qualquer responsabilidade. Como as imagens podem falar mais forte, quem tiver coragem pode ver os resultados desta busca de imagens no Google. Também recomendo que assistem o vídeo-clipe na página “A História do Agente Laranja“.

Finalmente, tomo a liberdade de reproduzir um texto enviado ao Grupo Yahoo “Budismo Shin” pelo Rev. Ricardo M. Gonçalves (Shaku Riman), da escola Terra Pura e autor do livro clássico brasileiro “Textos Budistas e Zen Budistas” que serviu de iniciação ao estudo do budismo para tantos brasileiros. Ele expressa, melhor que eu poderia, tudo que eu quis escrever… .

Caríssimos Irmãos no Dharma,

Quero compartilhar hoje convosco algumas reflexões sobre o 11 de setembro:

1. O fenômeno “terrorismo” que, parafraseando Von Clausewitz, poderíamos definir como “a continuação da guerra por outros meios”, não é causa, é CONSEQUÊNCIA. Como budistas, vamos refletir sobre ele aplicando o Princípio da Co-Produção Condicionada (pratityasamutpada) , procurando tomar consciência das CAUSAS E CONDIÇÕES que o geram. Essa é uma investigação em que o pensamento budista e o método histórico praticamente se superpoem e se confundem.

2. Considero o dia de hoje propício para lembrar uma tradição que, pelo menos no que concerne o Budismo Japonês, infelizmente foi esquecida nos tempos modernos: a de cultuar, por ocasião de uma guerra, a memória de todos os que pereceram, tanto amigos como inimigos. Assim, por ocasião das tentativas de invasão do Japão pelos mongóis no século XIII, foram construídos templos em memória tanto dos samurais que pereceram defendendo seu país, como dos mongóis, a maior parte dos quais se afogou vitimada pelas tempestades que destruíram as frotas invasoras. Refletindo sobre os trágicos acontecimentos de 11 de setembro de 2001 a partir dessa ótica, lembremos que a Grande Compaixão do Tathagata abarca igualmente no seu seio algozes e vítimas, opressores e oprimidos, exploradores e explorados, pois todos eles não passam de pobres entes profanos com os olhos toldados pela ignorância, pela cólera e pelo desejo, a perambularem cegamente desde um passado imemorial pelas sendas escuras do “samsara”, agredindo-se e ferindo-se mutuamente e experimentando sofrimentos inenarráveis. NAMU AMIDA BUTSU

3. Fazem hoje seis meses da catástrofe que se abateu sobre o Nordeste do Japão, em que fatores naturais (terremoto, tsunami)se somaram a um fator humano (contaminação radioativa). Reflitamos sobre a cegueira arrogante da civilização moderna que, perdendo de vista um ponto de referência superior (AMIDA = o Imensurável) e cultuando o ídolo de pés de barro do Progresso, se julga capaz de tudo compreender e tudo resolver a partir da perspectiva do quantificável e do mensurável. Lembremos as palavras inspiradas de nosso Poeta Maior:

“Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.” (Fernando Pessoa)

Gasshô,

Shaku Riman